terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Entrevista Tony Thai

Posted by | janeiro 31, 2017




No início de Janeiro, nós tivemos um post aqui no blog (caso não tenha lido clique aqui) que falava sobre o trabalho do Taro Bando e da trilha sonora do F-Zero X, falando brevemente de ambos, tanto da história quanto dos aspectos técnicos.

Nesse artigo, eu citei o Tony Thai, que fez o rearranjo da trilha do primeiro F-Zero (Snes) para que ficasse no estilo do X. Pela primeira vez aqui no blog, teremos uma entrevista, com o músico Tony Thai.

A entrevista foi feita por email, ela aborda alguns fatos sobre o Tony e o seu trabalho em si, espero que gostem.

Agora, caso você queira ler a entrevista no idioma original (inglês), então clique aqui para se direcionar a ela.

Sem mais delongas, a entrevista...

Conte-me um pouco sobre você
Eu fui introduzido à composição em 1997 quando um amigo me deu alguns programas de sequenciamento de MIDI, sendo um deles o Cakewalk Pro Audio 6. Eu sabia nada sobre música ou teoria na época, mas depois de mexer com os sequenciadores por um tempo, eu notei que eu poderia recriar melodias que sempre grudavam na minha cabeça. Então eu comecei a transcrever as minhas músicas favoritas de videogames de ouvido para MIDI e postá-las na internet. Eu transcrevi e lancei algumas covers em MIDI no VGMusic, por vários anos e, intuitivamente, eu aprendi os fundamentos da teoria musical. Eventualmente, eu lentamente comecei a compor músicas originais.

Que tipo de música você gosta? Qual(is) artista(s) ou banda(s) você gosta?
Eu não ouvia exatamente um tipo especifico de bandas ou artistas quando eu estava crescendo. Normalmente era qualquer música que era realmente contagiante ou que ficava na minha cabeça, mesmo que fosse de videogame, temas de TV, aberturas de anime, ou mesmo, músicas que tocavam em qualquer lugar. Meu gosto por música mudou muito durante os anos, porém desde que um amigo da internet me introduziu jazz fusion e música brasileira, eu tenho ouvido muitas coisas boas como Casiopea, Pat Metheny Group, Shakatak, Tom Jobim, Ivan Lins, etc.

Você gosta/joga videogames? Quais são os consoles e jogos que você gosta?
Eu costumava jogar vários games alugados do NES, SNES e alguns games do DOS quando o meu pai comprou o nosso primeiro PC em 1992. Durante os anos eu descobrir que eu era muito bom em jogos de corrida. Eu também era bom em encontrar glitches e atalhos e usava-os para ter vantagem. Durante a competição oficial online do F-Zero GX em 2003, eu conseguir ganhar algumas placas e mousepads oficiais do F-Zero GX, porém, infelizmente, eu joguei com a conta do meu irmão, então o nickname dele foi impresso nos itens. Entretanto, Ele é muito melhor que eu em jogos de corrida. Eu também mantive a maioria dos recordes mundiais do spaceflying no F-Zero GX por um tempo antes de eu parar de jogar. Não sei se eu deveria ficar orgulhoso por usar esse tipo de truques, mas é necessário muita habilidade, esforço e sorte para vencer os melhores jogadores pelo mundo. Como consoles, eu tenho o NES, SNES, N64, GameCube e alguns portáteis. Eu só comprei o N64 e o GameCube por causa do F-Zero X e GX.

(Um exemplo de atalho)

Quais são os seus compositores de videogame favoritos?
Existem muitos para listar, então eu só mencionarei alguns que vem a mente: Koji Kondo, Soyo Oka, Eriko Imura, Luna Umegaki, Hirokazu Ando, Yousuke Yasui, Jimmy Weckl, Daisuke Shiiba, etc.

Por que você regravou a trilha sonora do F-Zero?
A série F-Zero tem sido uma das minhas franquias favoritas de corrida, com músicas contagiantes que eu amo. Eu comecei a compor por volta da mesma época que o F-Zero X saiu, então é uma grande influência nas minhas músicas. Eu me lembro o quão legal o remake de Mute City e Big Blue soavam e queria ouvir as outras melodias do F-Zero original refeitas no mesmo estilo. Eu tentei fazer algumas músicas do F-Zero no estilo do X, mas o melhor que eu conseguir foi uma imitação em MIDI usando soundfonts que não soavam nada com o original. Pelo fato de que as músicas do F-Zero X são "Streamed", não era possível ripar as samples como em outros games do N64. Com o passar dos anos eu, acidentalmente, encontrei por o acaso com algumas source samples usadas no F-Zero X soundtrack de um bateria eletrônica, como o Boss DR-660, e sound modules como o Kurzweil K2500 e o Roland SC-88pro. Ainda existem muitas samples que eu não sei a origem, mas eu fui capaz de recriar a maioria usando os sons existentes da minha biblioteca de sons. O mais importante foi como eu finalmente descobri uma forma de imitar a guitarra do F-Zero X. Eu estava brincando com o Guitar Rig 2 e não tinha uma guitarra conectada então eu usei um patch de guitarra em MIDI do soundfont que veio com a minha placa de som Sound Blaster (CTA4MGM.sf2 ou 4GMGSMT.sf2 ou algo assim). No instante que eu toquei a nota e ouvir a guitarra do F-Zero X que eu estive tentando recriar a bastante tempo. Eu estava muito excitado porque era o mais próximo que eu já estive de recriar o som da guitarra do F-Zero X. Foi então que eu percebi que deveria recriar o restante da trilha do F-Zero com a instrumentalização do F-Zero X.


Como foi fazer este álbum (F-Zero)?
Foi divertido. Eu tinha muito tempo na época, porque era verão e eu não tinha que ir trabalhar então eu poderia passar o dia todo trabalhando em uma única música. Pensando sobre a melhor forma de compor as músicas, foi difícil decidir se eu deveria ou não rearranjar fielmente ou mais estilo F-Zero X, simplificando a bassline e mudando os acordes para Power Chords. No final, eu tentei fazer uma mistura dos dois, enquanto adicionava um pouco do meu estilo. Ouvindo novamente hoje, existem várias coisas que eu mudaria. Primeiro de tudo, eu acho que poderia ter usado melhor o mixing e EQing. O overtune no baixo me incomoda e os pratos são muitos baixos. Alguns dos drum fills estavam muito simplórios e, provavelmente, requerem mais de duas mãos para tocar, e arranjos de Sand Ocean e Red Canyon poderiam ser melhores. Eu também não gosto de como todas as músicas terminam de repente em vez de diminuir  gradualmente. Eu poderia consertar agora, entretanto os arquivos estão armazenados em um HD quebrado em algum lugar.


Qual é a sua faixa favorita do seu álbum? Por quê? E da franquia F-Zero?
Provavelmente Port Town, porque foi a primeira música que eu queria recriar com a instrumentalização do F-Zero X. Também Silence, porque desde que eu não era limitado a somente 8 canais de polifonia eu pude encorpar os acordes no começo da música. Na franquia F-Zero, eu diria que a minha favorita seria do F-Zero X: Expansion Kit’s a Roller Coaster do N64. Eu me lembro de ouvi-la pela primeira vez em um vídeo de time attack de um jogador japonês e tinha que fazer o remix. Infelizmente, não existia nenhuma gravação da inteira limpa na época, então minha única fonte era ouvir o vídeo de Time Attack. Pelo fato dos efeitos dos boost e outros sons serem altos, eu mal conseguia reconhecer as notas da música, então tinha muita adivinhação envolvida em fazer o meu remix.
(Roller Coaster do Expansion Kit)



Qual é a sua opinião sobre um novo jogo da série F-Zero? Você gostaria de um novo?
Oh, com certeza! Eu sempre quis um novo F-Zero com um multiplayer online desde o F-Zero GX. Existem alguns clones de F-Zero por aí, mas eu acho que eles não tem o mesmo tipo de jogabilidade e física que a série F-Zero tem. Eu acho que o que diferencia o F-Zero de outros jogos de corrida futurista não é só a velocidade, mas a extrema precisão dos controles e as técnicas avançadas. A física dos jogos F-Zero tem suas peculiaridades, porém isso que os tornam especiais. Permite que uma porção de técnicas não intencionais sejam descobertas, por exemplo, como tocar a pista enquanto flutua, deixando que você flutue para sempre, ou como movimentos ofensivos, como side attacks, podem ser usados para fazer as curvas ou ganhar velocidade durante nosedives. Existem também técnicas mais perigosas que envolvem manobras aéreas precisas ou raspar o seu veículo contra a parede sacrificando sua energia em troca de mais velocidade. F-Zero GX foi além com muito mais técnicas não usuais como soltar o acelerador para ir mais rápido, ou cair repetidamente fora da pista e pousar de volta para ganhar velocidade, ou mesmo destruir o seu veículo na esperança que a explosão te fará cruzar a linha de chegada. Mesmo depois de quase 2 décadas, novos recordes são estabelecidos porque jogos do F-Zero são tão difíceis de dominar e continuam a ter muito potencial.
(Exemplo de Nosedive)

(Outro exemplo de recorde)

Qual diferença que uma boa OST pode fazer em um game?
Normalmente, uma boa trilha deveria fazer o jogador se sentir parte do jogo e invocar qualquer emoção sempre que seja necessário. Todavia, eu gosto de trilhas que também sobrevivem por si só e podem se apreciadas fora do contexto do jogo. Aquelas que você fica motivado e realmente cativante, às vezes você também pode acompanhar cantarolando, ou ouvir repetidamente sem mesmo ficar entediado. F-Zero X tem uma ótima trilha que perfeitamente se encaixa com a velocidade do jogo. Cada faixa era contagiante e memorável. Funciona tanto dentro quanto fora do contexto (porém, pode ser perigoso ouvir enquanto dirige um veículo automotor). Às vezes a trilha sozinha pode fazer ou quebrar um jogo. Eu já vi muitos casos onde a pessoa compra o jogo só por causa do seu compositor mesmo que o jogo seja medíocre. Enfim, uma boa trilha fará eu lembrar do game para sempre.

Eu vi que você reimaginou outras OST. Você tem planos para projetos futuros ou álbuns?
Eu tenho feitos várias reimaginações de outros games da franquia do F-Zero, mas nunca terminei. Você pode encontrá-las no meu site nesta página: F-Zero Stuff. Eu planejei fazer um álbum com minhas composições, mas eu não tenho mexido em todas e elas não serão relacionadas com o F-Zero em nenhuma forma. Eu ainda tenho centenas de músicas inacabadas de 2010-2013 que eu preciso terminá-las.

Você já pensou em compor uma OST para algum game?
Eu pensei sobre isso, mas eu estou com medo de gastar muito tempo tentando aperfeiçoar uma música quando eu deveria seguir em frente. Eu posso bolar centenas de melodias bobas, ou se eu estiver com sorte, contagiante e progressão harmônica, mas o que se segue é um processo meticuloso que demanda muita concentração e energia de mim: torná-las músicas completas. Eu estou constantemente fazendo decisões musicais e descartando mais do que eu mantenho, fazendo algo que leva uma eternidade para terminar. O que também não ajuda é que eu não sou muito bom em tocar instrumentos, então eu coloco todas as notas com o mouse. Eu tenho o costume de não ter pressa quando estou compondo, todavia mesmo se eu sentir que estou escrevendo algo com o auge das minhas habilidades, eu notarei problemas ouvindo-as novamente no dia seguinte. Eu também não tenho muito tempo como eu costumava ter por causa do trabalho e outros hobbies. Este é o motivo que meus lançamentos musicais têm caído significativamente depois de 2011. Eu espero que ninguém leia isto ou eles nunca me contratarão para compor.

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Quero agradecer ao Tony Thai por ter concordo em fazer a entrevista, ele é um cara muito simpático e legal. Ouçam os trabalhos dele, deixarei aqui os links para que vocês possam conhecer mais:


Infelizmente o site do Tony está fora do ar no momento, caso queira ouvir o CD do F-Zero que ele fez, basta clicar aqui e baixar:

Gostaram da entrevista? Querem mais conteúdo desse estilo?

Comentem e até a próxima!

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2 Comentários

  1. Neto Pinheiro escreveu:
    2 de maio de 2017 às 02:36
     

    Nossa Alex! Minha primeira visita no site e tu postas um artigo sobre a trilha do F Zero (minha série favorita de corrida da Nintendo) e ainda sobre uma mixagem das músicas do F Zero e do F Zero X. TÁ MUITO FODA!

    Parabéns e obrigado por postar essa entrevista!

    Abraços! (=

  2. Alexandre Viana escreveu:
    3 de maio de 2017 às 11:19
     

    Muito obrigado! Que bom que você adorou! Foi uma entrevista muito legal, eu mesmo aprendi muito quando pesquisei mais a fundo sobre a trilha sonora do F-Zero X e com o próprio Tony que é um cara muito legal.


    Eu estou com planos que postar mais entrevistas aqui no Blog, então fique ligado que terá mais sim no futuro.


    Obrigado mesmo por nos acompanhar, Neto!

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